PALAVRAS DE DESPEDIDA DA REITORIA DO SEMINÁRIO

19 de dezembro de 2010

Queridos irmãos e irmãs Amados seminaristas,

No mês de novembro passado, agradeci ao Senhor os 10 anos de minha chegada em Jaboticabal e de minha destinação ao Seminário, por desejo de Dom Luiz. Neste mesmo mês, nosso Bispo Dom Fernando acolheu meu pedido de ser liberado de um dos dois encargos diocesanos que acumulava, pois eram muito exigentes para uma única pessoa. Falo do Seminário e da Coordenação Diocesana de Pastoral, junto dos quais estava também o cuidado pastoral da Paróquia Santa Teresa. Depois das devidas ponderações, Dom Fernando optou por manter-me na Coordenação de Pastoral, a fim de que o trabalho já iniciado da 6ª Assembléia Diocesana de Pastoral pudesse prosseguir. Foi desta forma que liberou-me da Reitoria do Seminário embora mantendo-me como membro do Conselho de Formadores.

Cheguei há precisos dez anos neste amado lugar. Vim para ser professor e cuidar das economias da Casa, auxiliando o Pe. José Sidney na formação. Conheci esta casa ainda sendo construída; a fundação do Seminário como instituição formativa era muito recente e todos (formadores e formandos) estávamos muito felizes por termos, depois de tantos anos, um lar para chamar de nosso. Os desafios eram muitos... erros e acertos se alternaram com rapidez... a Providência Divina ia começando com estes pobres instrumentos uma história admirável de configuração de jovens generosos a Cristo, a maioria dos quais hoje tenho a alegria e o orgulho de abraçar como irmãos no presbitério.

Os anos foram passando. Nos acostumamos com as novas estruturas e com a casa, vieram outros desafios e necessidades. Com a chegada de Dom Fernando, para mim, houve uma grande transformação: confiou-me, sem merecimento algum, o encargo de ser o Reitor do Seminário e, com este encargo, algumas tarefas bem precisas: a) encarar o desafio de uma estrutura conjunta de formação com a Diocese de Franca; b) definir o Projeto Formativo do Seminário; c) acompanhar a provocação dos tempos, estabelecendo um estilo pedagógico de formação que alguns irão lembrar para toda a vida...

Foi um tempo de graças!
Devo confessar que senti sempre o Senhor me acompanhando com graças particulares. No curso para formadores, eu aprendi que Deus dá graças e luzes especiais aos reitores e eu sou testemunha de que isso é verdade. Nas horas de desânimo, no pesar da cruz, nos momentos difíceis e na dúvida diante de decisões importantes vi sempre o dedo de Deus mostrando-me a direção certa: isso acontecia na oração pessoal e comunitária, nas pessoas que eu encontrava e em várias seqüências de fatos que a gente não consegue explicar.

Não faltaram momentos difíceis... eles fazem parte da vida e da missão de todas as pessoas e para mim não foi diferente. Todo início é muito penoso e não foi diferente em nosso Seminário. De dificuldades financeiras ao cansaço físico e psicológico, foram muitas a tarefas a resolver... digo tarefas pois aprendemos que problemas são tarefas que devem ser resolvidas... Um desses momentos difíceis foi sempre quando, esgotadas todas as possibilidades, tive em nome do Conselho que despedir alguém do Seminário... esta é a decisão mais dura para um formador e, no meu caso, sempre precedi este momento de muita oração e confiança em Deus, sabedor de que se esta é a vocação da pessoa, posso fechar a porta de um Seminário, mas Deus abrirá outras de tantos outras casas para a pessoa. Entre todas as dificuldades, porém, acho que a incompreensão foi a mais doída lasca da cruz. Aprendemos na fé a lidar com ela e no fim até agradecemos a chance de passar por ela pois temos certeza que é a situação que mais nos aproxima de Jesus Crucificado e, portanto, da salvação.

Contudo, nunca me senti sozinho.
Para ser honesto, devo aqui mencionar algumas pessoas que foram muito importantes na missão no Seminário. Falo do Pe. Flávio, com quem aprendi muito e dividi o peso da cruz por um bom tempo... do Pe. Devair com quem compartilhei e compartilho angústias e preocupações que só cabem no coração do reitor... dos demais formadores que compartilham a preocupação de uma formação consistente em nossa Diocese, destacando o Pe. Gustavo que, nestes últimos dois anos, tanto me escutou, acolheu e incentivou... Recordo nossos colaboradores e funcionários, servindo-nos com alegria e desvelo, ajudando-nos na tarefa de formar-nos outros Cristos para o mundo, com especial menção à Eliete que, desde o início, abraçou a nossa causa e continua até hoje muito prestativa e à altura de ajudar-nos, ajuda esta que ultimamente temos recebido também da Karina... Lembro as nossas irmãs do Centro Pastoral, que com tanta oração, penitência, responsabilidade e preocupação cuidam de nós, especialmente a Ir. Elisabeth, esposa fiel de Cristo, com quem muitas vezes abri meu coração. Lembro o nosso amado Pai Dom Fernando, de quem gozei uma confiança imerecida e que soube testar minha resposta vocacional para o bem da Igreja... Lembro também minha família que procurou sempre aceitar minhas ausências de casa e muito me fortaleceu sempre. Não esqueço, enfim, os seminaristas, de todas as turmas e de todos os anos... quanta força, alegria, incentivo e motivação recebi deles. Eles foram a razão do meu estar aqui nestes 10 anos e a eles devo muito do que hoje arrisco dizer que sou. Tenham a certeza de que em qualquer lugar onde eu estiver, vocês encontrarão sempre um coração aberto e um amigo.

Confesso que ainda não consigo imaginar-me longe dos seminaristas. Vocês foram e são, diante de Deus, minha alegria mais íntima. Cada um que chega ao altar, sinto que é uma vitória conjunta, um irmão que venceu a dura batalha contra si mesmo, contra os percalços e as dificuldades vocacionais. Será difícil adaptar-me longe de vocês e meu coração me diz que vai levar muito tempo acostumar-me se é que me acostumarei. Acho que, por isso, em sua bondade, nosso Bispo não quis deixar-me livre de tudo no Seminário, fazendo-me continuar como formador e membro do conselho de formação. Mas missão é missão e geralmente tem início, meio e fim. E hoje esta missão de Reitor encontra seu termo, nesta celebração.

Enfim.... despedidas são difíceis... mas precisamos nos despedir.
Vou sereno e feliz pelas inúmeras pessoas acompanhadas, pelas vocações discernidas, pelos jovens que acompanhei no seminário como filhos e que hoje, como padres, tenho satisfação em abraçar como irmãos. Devolvo a Deus o talento que pelas mãos do Bispo recebi, depositando-o de volta nas mãos do nosso Bispo, que é o administrador da vinha do Senhor, confiante e feliz por termos juntos trabalhado e vivido neste tempo de graças.

A Deus e a Nossa Senhora minha eterna gratidão.
Ao Sr. Bispo, ao clero e a todos os colaboradores, meu sincero agradecimento.
E a vocês, queridos seminaristas, meu obrigado, do fundo do coração!
Vou levá-los comigo, sempre!

Pe. Marcelo Cervi

Um comentário:

  1. Muito lindo... Pe Marcelo!
    Desejo ao Sr td de bom... e agradeço a sua disponibilidade... e seu empenho na formação desses jovens... sei q muitos o tem como exemplo.
    Missão mais q cumprida... Parabéns por todos esses anos...
    Bjo

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