Existem momentos em nossa vida em que parecemos “estar num beco sem saída”, como nos diz o ditado popular, no qual tudo aquilo pelo qual lutamos, trabalhamos e vivemos se encerra ali, sem ao menos restar uma fagulha de esperança na qual deter nosso coração inquieto a procurar um novo sentido para continuar a viver. Parece que não há para onde fugir. Diante de tal acontecimento cabe apenas perguntar-nos: E agora?
O poeta mineiro, Carlos Drummond de Andrade, traduziu em palavras muito bem colocadas (não sendo a intenção dele) o sentimento que passava pelo coração dos discípulos, quando aparentemente uma cruz aquietou a voz do mestre, quando um túmulo lhes pareceu sepultar suas próprias vidas, quando uma pedra não apenas sepultou Jesus, mas sepultou de cada qual a melhor parte da vida que tinham, afinal de contas Jesus conseguiu transformar de maneira profunda a vida de cada pessoa que com Ele se encontrava.
Drummond escreveu um de seus mais belos poemas em torno de várias perguntas endereçadas a José, que, sendo um nome bastante corriqueiro, parece questionar também a nossa condição humana; parece falar claramente às nossas crises existenciais. Ele diz: “E agora, José? A festa acabou, a luz se apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? E agora você?” Ao colocar a dureza da vida diante de José ( podemos nos colocar no lugar José!), o que o autor pretende não é fomentar em nossos corações o desânimo ou a tristeza que possa parecer conter nossos questionamentos; na verdade, o autor pretende nos mover para uma reação. Já que não há onde se esconder precisamos ter a coragem de não deixar morrer tudo aquilo que experimentamos de nobre e belo em nossa vida.
No coração dos discípulos, diante do sepulcro, parece apenas restar a dupla saudade: primeiro, saudade daquele que se foi, Jesus; e a segunda, saudade de suas antigas vidas de pescadores. Mas, mesmo que sentissem saudades, já não podiam ser iguais ao que eram antes, pois o encontro profundo que tiveram com Cristo tinham lhes mudado o coração de tal forma que já não cabia em suas novas vidas os velhos homens.
Mas, eis que ao terceiro dia, para a surpresa e espanto de seus corações tristes e desconfiados, “o túmulo está vazio”! Novamente enchem os seus e os nossos corações de esperança, sabor e vida. O amor falou mais alto do que o silêncio do sepulcro, a vida brotou na dureza do tumulo do coração humano, a presença do Cristo novamente pode ser sentida. A alegria da ressurreição anima, alegra e faz o sol nascer em cada coração frio, escuro, pois se tirarmos o amor do mundo resta só o sepulcro frio e sem vida. Tirem de mim Jesus Cristo e não me sobra mais nada, pois Cristo é tudo em mim e eu não sei viver a minha vida se não tiver a presença amorosa e norteadora do amor feito gente.
Para encerrar lembro um trecho das catequeses de Jerusalém que está na liturgia das horas, da quinta-feira na oitava da páscoa: “ó maravilha de amor pelos homens! Em seus pés e mãos inocentes, Cristo recebeu os cravos e suportou na dor; e eu sem dor nem esforço, mas apenas pela comunhão em suas dores, recebo gratuitamente a salvação”.
Por fim, poderíamos perguntar: E agora, Jesus? O que sou sem tua presença a me iluminar? O que sou sem teu amor a me humanizar? Sem ti, nada sou; contigo sou mais livre, vivo e feliz!
Bruno Luiz Ferreira da Silva – 1° TEO