"Faça-se em mim segundo a Tua Palavra"

“Disse-lhe Jesus: ‘Vai, teu filho vive’. O homem creu na palavra que Jesus lhe havia dito e partiu.” (Jo 4, 50) 

Com estas palavras, o evangelho nos mostra a confiança e a fé que devemos ter em Jesus durante a nossa caminhada tanto vocacional quanto cristã. Nossa fé deveria assemelhar-se à fé daquele homem que acreditou na palavra de Jesus. O Mestre nos pede para seguirmos este exemplo e, ainda mais, nos colocarmos nas pegadas de Maria que, ao receber o anúncio do anjo pronunciou o seu sim (“Faça-se em mim segundo a tua palavra”), assinando, como dizia Santo Agostinho, uma folha em branco, permitindo que Deus escrevesse ali o que ele quisesse.

Considerando quanto acabamos de dizer, também nós, vocacionados, recebemos de Deus uma folha em branco para, assim como Maria, nela colocarmos a nossa assinatura. Diante disso surge um grave problema: queremos nos colocar no lugar de Deus. Não permitimos que ele escreva nesta folha a sua vontade para nós, mas acabamos escrevendo nós mesmos aquilo que bem entendemos para a nossa vida, fazendo da nossa história um sujeitar-se às nossas vontades achando que Deus, aquele que nos chamou, deve aceitar o que lá escrevemos, como se ele mesmo o tivesse feito.

No que consiste a nossa vocação? A nossa vocação consiste em fazer a vontade de Deus. Quando começamos a escrever no lugar de Deus não percebemos nossos erros. Esses erros, que, como dissemos, não são percebidos, estão nos pequenos atos de nossa vida. Pensemos por exemplo nos sete pecados capitais: vaidade, inveja, orgulho, avareza, luxúria, gula, ira! Vivemo-los mais do que os dons do Espírito Santo com os seus frutos quando escrevemos a nossa história no lugar de Deus. Será que isso é sinal de Graça em nossas vidas? Voltemos o nosso olhar para a realidade do seminário. Como dissemos, ao aceitarmos o chamado de Deus entregamos a ele esta folha em branco, para que, tendo-a nas mãos, Ele colocasse nela a sua vontade para nós, vontade essa que poderia ser expressa, por exemplo, na acolhida dos sete dons do Espírito em nossa vida: sabedoria, inteligência, fortaleza, ciência, piedade, temor de Deus. E por que isso não acontece? Porque insistimos em colocar nesta folha, utilizando-nos da nossa vontade, os nossos rabiscos. Neste momento nos desviamos do reto caminho, nos esquecemos do nosso princípio e do nosso fundamento (o chamado que Deus nos fez) e fazemos a nossa vontade. Mas é difícil fazer a vontade de Deus! Fazer a vontade de Deus exige de nós renúncias, as quais muitas vezes não queremos fazer. Apelamos para a nossa liberdade, na tentativa de justificar a não-realização da vontade de Deus. Somos livres! Mas será que vale a pena escrever nesta folha os rabiscos de nossa vontade? Se já escrevemos, será que não está na hora de permitir que Deus retome a condução de nossas vidas deixando que Ele escreva a nossa história da maneira certa, mesmo que tudo isso implique dor?

Iniciamos nossa caminhada animados, empenhados, e parecia que nada nos iria abalar. No entanto nossas paixões foram mais fortes do que nós, o pecado tomou conta do nosso coração e a nossa vocação já não era assim algo tão importante, algo com o qual deveríamos nos importar. Será que tudo o que vivemos até agora não nos importa mais? Será que vamos continuar escrevendo nós mesmo a nossa própria história vocacional ou será que vamos permitir que Deus coloque na folha em branco da nossa vida aquilo que de fato deve ser escrito?

Murilo Vendite – 2º FIL

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