Mistério da Fé: Eucaristia e Cruz
O Sacramento da Eucaristia está intimamente ligado ao Mistério da Cruz. Jesus dá novo significado à Páscoa ao celebrá-la com seus discípulos. A Ceia da Quinta-feira Santa está para o Sacrifício da Cruz, a morte de Jesus, na Sexta-feira Santa.
A Páscoa celebrada pelos judeus fazia memória da libertação do povo de Deus da escravidão do Egito. Todo ano, numa ceia familiar, o pai presidia à celebração e relembrava para os seus a história da libertação. No capítulo 12 do livro do Êxodo, lemos a orientação para a passagem (Páscoa): um cordeiro sem mancha deveria ser imolado, seu sangue deveria marcar as portas, pães sem fermento e ervas amargas. Desta maneira, um memorial em Israel de louvor, pois, eram escravos e sem terra (não povo), o Senhor os libertou e deu-lhes uma terra. É importante destacar que só tomava refeição com os judeus aqueles que eram íntimos, nunca quem se tinha acabado de conhecer!
Jesus sendo judeu, também celebra a Páscoa, mas na Quinta-feira Santa lhe dá novo sentido, re-significa a Páscoa judaica. No relato da última Ceia, presente nos Evangelhos (destacamos Mt 26, 26ss), contemplamos Jesus com seus discípulos! Jesus está com sua família à mesa da Ceia; os discípulos são a nova família de Jesus. O Senhor assume o lugar do pai/sacerdote, que preside à celebração. Jesus toma pão e vinho, alimentos simples, e os distribui aos discípulos: “tomai é meu corpo... tomai é meu sangue”. A celebração da Ceia se torna antecipação ritual, cúltica, do Sacrifício da Cruz; Jesus ritualiza sua morte de cruz, para permanecer entre seus discípulos! Percebamos que nos relatos da Última Ceia não se fala do cordeiro. Justamente porque Jesus é o próprio Cordeiro imolado, sem mancha, que morre para remissão dos nossos pecados. Ao final, dá o mandato aos seus discípulos: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19b). A Páscoa cristã é o Sacrifício da Cruz de Cristo, morto e ressuscitado, presente em sua Igreja, de maneira sublime na Eucaristia.
A Eucaristia celebrada é atualização, no Espírito Santo, do único Sacrifício de Cristo na Cruz e não uma repetição. É o Sacrifício da Cruz da Sexta-feira Santa, ritualizado na Quinta-feira Santa, diante de nossos olhos na Santa Missa. Em cada celebração o Sacrifício da Cruz, corpo dado e sangue derramado, se torna presente novamente no hoje de nossa história. Cristo Ressuscitado se entrega em Sacrifício salutar à sua Igreja.
Com muita facilidade podemos separar a Quinta-feira Santa da Sexta-feira Santa. Separamos a Eucaristia, corpo e sangue dados como alimento, do Sacrifício da Cruz, corpo dado e sangue derramado. “No Calvário se escondia a Divindade de Jesus. Na Eucaristia se esconde a Humanidade”.
Por isso, a Eucaristia é memorial (passado) de Jesus Cristo, é unidade entre Cristo com sua Igreja (presente) e prefigura nossa união definitiva com a Trindade no céu (futuro). Jesus Ressuscitado se dá a nós, entra em nosso ser, toca o nosso íntimo com sua presença real. Se Cristo se faz Pão da Unidade para nós, nos tornamos também nele e a partir dele pão, eucaristia, para os irmãos e para o mundo concretamente quando doamos nossa vida pela causa do Reino. Justamente, poderíamos dizer que existem dois momentos de distribuição da Eucaristia quando celebramos: o primeiro quando nos dirigimos ao sacerdote e o segundo quando o sacerdote nos diz: “Ide em paz...”. Eis o início de nossa missão: sermos eucaristia para o mundo!
Bruno C. Siqueira (4º TEO).
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